terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Dia III ou "O dia em que o Canal do Panamá entrou no ar"

Ciudad de Panamá (Panamá) - Quarta-feira, 05 de Novembro de 2008

O relógio apontava 09:00 horas quando levantei. Na noite anterior fiz questão da anotar na minha agenda tudo o que precisava fazer. Era meu último dia no Panamá e eu não queria que o efeito dominó derrubasse meu roteiro já no terceiro.

A prioridade era fazer compras. Precisava de sandálias, tênis, camisetas e roupa pra chuva. Como não tinha a menor idéia dos preços na Costa Rica, era ainda no Panamá que ia conseguir isso tudo.

O Panamá é conhecido pelos bons preços. Todo o tráfego de mercadorias vindas dos quatro cantos do mundo fez de Ciudad de Panamá um importante centro comercial. A moderna capital do país está na entrada do canal (ou saída, dependendo de seu ponto de vista) banhada pelo Pacífico, enquanto que, 60 km ao Norte, se encontra a cidade de Colón, servida pelas águas do Atlântico.

As duas cidades possuem forte comércio, mas com características um pouco diferentes. Enquanto Colón (cidade com pouco mais de 200.000 habitantes) tem força no comércio atacadista, a capital atrai turistas de ocasião. Mais tarde viria a saber, por pessoas que conheci na trip, que ir a Colón é pura perda de tempo: além de ser marcada pela violência, os preços não são os aquilo que se espera. (Um senhor vindo da Flórida relatou na viagem pra Costa Rica que em Colón fora abordado por um assaltante armado, levou uma coronhada e quase teve o passaporte roubado).

Mais uma vez pedi ajuda a governanta multi-uso do residencial que me indicou um lugar de preços bons chamado Plaza Calidonia a uns 800 metros de onde estávamos: os preços do Albrook e do Multiplaza só eram realmente bons nas ofertas.


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Se existia uma praça no lugar, nunca vou saber, porque as tendas se espalhavam pelas ruas em pleno feriado do Dia de Colombo. Antes de chegar na muvuca comprei um jornal, desses baratos com notícias populares, pra caminhar com ele debaixo do braço. Quando se é forasteiro, se estampa na cara, nos trejeitos, na maneira que se olha o movimento, e isso é um prato cheio para os espertos. Um jornal debaixo do braço simboliza um cidadão comum, acostumado com o cotidiano. Isso até que esse cidadão comece a falar portunhol. Porém segurança ali não era problema porque existia policiamento ostensivo nessa área da cidade.

Com sandálias e abrigo na sacola, era hora de arrumar as malas e debandar. Já era quase meio-dia e ainda pretendia visitar o Canal do Panamá.

Então, tomei um táxi até o terminal e fui logo buscando um guarda-volumes que ficava num pequeno corredor na ala sul da estação. Uma simpática balconista me atendeu o que, de certa forma, me surpreendeu porque na maioria das vezes fora atendido por gente despreparada em shopping centers munidos de excelentes instalações de ar condicionado enquanto que aquele cubículo fervente fui tratado de modo exatamente oposto. Aquilo mais parecia uma sucursal do inferno na terra !

Antes que me perguntassem se queria marcar uma entrevista com o "Coisa Ruim", deixei minhas coisas combinando de pegá-las antes das 19, já que era feriado e não trabalhariam até madrugada. Meu ônibus para a Costa Rica sairia somente às 23 horas, ou seja, eu teria uma tarde inteira pra fazer turismo (contanto que estivesse às 19 no terminal pra pegar minha mochila).

Depois de almoçar no Shopping, negociei com taxistas conseguindo um "excelente" desconto de 5 pra 3,5 dólares . Era horário nobre no Canal do Panamá e sem reprise de Natal.
No caminho o taxista contava mais uma das muitas histórias panamenhas sobre o canal. Percebe-se que, com a extinção do território americano da Zona do Canal do Panamá, os panamenhos passaram degustar sua soberania territorial, mas é inegável que a saída dos americanos vem causando problemas na economia local, afinal de contas, foram-se os gringos e seus dólares também.


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O Canal do Panamá talvez seja o mais famoso ponto turístico da América Central. Também pudera, já desde o século XIV os navegadores tentam de alguma forma transpassar o continente centro-americano. Antes da construção do canal havia a idéia de que a ligação pudesse ser feita não no Panamá, mas na Nicarágua onde, aproveitando o Rio San Juan e o Lago Nicarágua, seria necessário romper somente 20 km de terra para se chegar ao Oceano Pacífico. Por razões políticas e geofísicas isso acabou não acontecendo e, assim, ao invés do Canal da Nicarágua quem ficou famoso foi o Canal do Panamá.
A visitação do canal se dá por suas eclusas: é lá que o visitante pode observar os navios subindo e descendo de nível. Os navios sobem de nível quando entram no canal e descem quando voltam para o oceano, mais ou menos como se atravessassem uma ponte. Como os navios não têm rodas e a água respeita a lei da gravidade, a engenharia precisou inventar as eclusas.

São três grupos de eclusas: Gatún, ao norte (próximo a Colón), Pedro Miguel e Miraflores ao sul (próximo à capital), essa última a mais visitada. E foi nessa mesma que eu fui.

Logo na chegada, numa longa escadaria, um entra e sai de turistas.

Já no guichê de entrada você tem duas opções: pagar US$ 5,00 para ver as eclusas funcionando e visitar o museu, ou US$ 8,00 por uma visitação completa com guia e direito a assistir um filme no lugar. Se tiver tempo e dinheiro pra gastar, a opção é sua.

O museu é interessante, com várias maquetes, miniaturas e simuladores, vale a pena conhecer e bater muitas fotos. Eu fiz isso. Mas perdi todas !

O terraço do prédio é o melhor lugar para assistir as eclusas funcionando. As embarcações ficam aguardando no Lago Miraflores a oportunidade para poderem entrar nas eclusas e o público, por sua vez esperando por elas. Parece um rodeio gigante às avessas.

O que chama a atenção é a impressão que as embarcações causam de multiplicar seu tamanho a cada metro que se aproximam. E se você acha difícil fazer baliza no centro da cidade, não queira o emprego de manobrista no Canal (sim, lá é o único lugar do mundo onde o comandante larga o navio na mão de um especialista): certa vez um barco apenas 60 cm de largura mais estreito que a eclusa atravessou pra lá, ou seja, uma parafernália daquelas passou a uma régua escolar (30 cm) de cada lado.

O sistema é teoricamente simples: o barco é posto na entrada da eclusa, alguns carrinhos localizados nos trilhos laterais o laçam, arrastando até o que se pode chamar de banheira. Essa banheira perde água pelas laterais fazendo a jangada descer. Quando o nível de água está baixo, e abrem-se as comportas, e o público delira !

E mesmo com a chuva incomodando no terraço, o público delirou mesmo, e numa dessas de pedir pra algum transeunte bater fotos conheci o primeiro e único brasileiro em toda a viagem: Eduardo, um carioca que costumava ir para os EUA fazendo escala por outro lugar, que já não lembro onde, e que dessa vez resolveu mudar a rota e conhecer o Panamá. Porque me viu com a camisa da Força Aérea Brasileira, resolveu me ajudar com as fotos: "É, tem brasileiro em todo lugar mesmo", concordamos.

E como, brasileiros quando se encontram, já arrumam uma jeito de descolar uns trocados. Rachamos o táxi e aproveitamos pra seguir dali para o tradicional bairro Casco Viejo, não sem antes pechinchar um pouco e conseguir um táxi mais barato. Dividido por 2.


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sábado, 20 de dezembro de 2008

Dia II ou "O dia em que faremos contato"

Ciudad de Panamá (Panamá), Terça-feira, 04 de Novembro de 2008


Não era 2010 mas era o momento de fazer contato. Depois de uma boa noite de descanso num hotel bem mixuruca acordei sem saber bem o que fazer. Pelo meu roteiro eu deveria visitar o Canal do Panamá e fazer tudo aquilo que já tinha feito no dia anterior (comprar a passagem e ir ao Albrook). Então precisaria de novos planos.

Acordei cedo e fui procurar algo pra comer. Falei com a atendente do "residencial" (que também era a faxineira) sobre como chegar ao Canal do Panamá e ela me disse que eu tinha vindo ao Panamá numa época de feriado !

- "Como assim 'época' de feriado ?"

Entre outros feriados, a República do Panamá celebra nos dias 03, 04 e 05 de Novembro os dias da Separação da Colômbia, da Bandeira e o Dia de Colombo (ou Día de La Raza) respectivamente.

O Dia da Separação se deve porque, além de ter se tornado independente da Espanha, formando a antiga Grã-Colômbia (juntamente com a atual Colômbia, Equador, Venezuela e parte do Peru), o Panamá também se tornou independente ou melhor, se separou dessas nações
em 1903. Ou seja, em 01/12 os canaleros celebram a independência da Espanha e em 03/11 a separação da Colômbia.

Mas como era 04 de Novembro era dia de celebrar a Bandeira. E é descomunal o número de bandeiras pela cidade nessa época. Eram incontáveis, intermináveis. Em todo lugar se vê bandeiras panamenhas. Os carros passam com bandeirolas, os prédios penduram as cores branca, azul e vermelha, as lojas expõem mais estandartes que seus próprios produtos. Acho que se meu hotel fosse mais elegante teria recebido bandeiras no lugar dos lençóis e toalhas.

Muito dessa fixação pelo maior símbolo do país vem de uma incansável busca do povo panamenho por identidade. Também pudera, depois de duas independências, ainda contou em 1903 com o início da construção do Canal do Panamá pelos norte-americanos.

"Em 1903 ? No ano da separação da Colômbia ?"

Exato. E não é mera coincidência, já que sua separação foi incentivada a todo tempo pelo Tio Sam.
Os americanos, assistindo o fracasso francês na tentativa de construir o canal no Século XIX, perceberam que era hora de "cuidar" daquele pedaço de terra tão bem localizado (lembre-se que estamos falando dos EUA antes das guerras mundiais, que nada se compara com a força política e militar dos dias de hoje!). Como a Colômbia não quis conversa nos termos de um Tratado sugerido pelo americanos, o então presidente Theodore Roosevelt teve uma idéia: treinar militares no Panamá e despachar a embarcação cañonera USS Nashville para o Mar do Caribe só pra dar um susto, instigando, assim, a separação panamenha. Como a Colômbia havia recém saído de uma guerra civil entre liberais e conservadores (a chamada Guerra dos Mil Dias), acabou não se opondo fervorosamente a separação do istmo.

"Ok ! Então isso inflamou o patriotismo panamenho !"

Errado. Pior do que prometer ao pobre é dever ao rico.
Agora os americanos tinham o caminho livre pra construir o canal e, por conseguinte, administrá-lo. Por isso criaram a Panama Canal Zone (Zona do Canal do Panamá): um enclave no país com status território norte-americano, com bandeira e tudo ! Esse território foi controlado pelos EUA entre 1903 e 1979, quando passou a ter a administração conjunta dos dois países. Somente em 1999 a República do Panamá voltaria a ser a legítima dona desse território. Só que a um alto preço: um patriotismo fragilizado, um território cicatrizado e a cultura fortemente influenciada pelos EUA.

Como eu não tinha nada a ver com isso e só queria tomar um café, resolvi descer as ruas da capital em busca de comida. As ruas estavam vazias e acabei encontrando uma típica mercearia de chineses. Comprei alguma coisa pra acalmar o estômago, ainda indeciso se valia a pena me arriscar em ir ao Canal do Panamá num dia de feriado. Em frente à mercearia havia um senhor que parecia conhecedor da cidade e, enquanto comia, resolvi pedir alguma informação sobre a cidade.

Mais do que qualquer preparação que você faça, qualquer guia turístico que compre ou livro que leia, sua viagem vai depender da boa vontade das pessoas nas ruas, os guias turísticos amadores. E a América Central está cheia deles.

Fui informado que 4 quadras ao Norte, na Via España, estava acontecendo o desfile da bandeira e que a cidade estava toda toda lá. Era como estar em Brasília no dia 07 de Setembro, pensei.

O desfile dispensa comentários, tem de tudo: bandas, trajes típicos panamenhos, militares uniformizados, gente de várias comunidades, autoridades administrativas e uma overdose de bandeira (e bloco das bandeiras das Américas a nossa também estava lá !!).























Durante o desfile tentei mais uma vez usar,
sem sucesso, o cartão pré-pago VTM (Visa Travel Money) no cajero do HSBC . Comecei a ficar preocupado com a possibilidade dos meus dólares acabarem sem que eu pudesse sacá-los, até que avistei a Caja de Ahorro: El Banco de la Família Panameña, onde, pra minha alegria, consegui descolar alguns trocados.

À tarde, tentei seguir a pé rumo ao Panamá Viejo (ruínas da antiga capital, considerado patrimônio mundial pela UNESCO) pela Avenida Balboa que corta o litoral da cidade e que está repleta de prédios ultra-modernos, mas me dei conta de que andaria uns 8 km só de ida.

Acabei parando no estilizado shopping Multi Plaza Mall. O Panamá é conhecido pelos bons preços e tinha decidido comprar alguns apetrechos que já me faziam falta (sem relógio vinha somando e diminuindo a hora do MP3 player, além disso meus pés precisavam de alguma coisa diferente das minhas botas).



De relógio novo, apesar do crônico mau atendimento na lojas (é difícil entender porque lá as pessoas foram tão atenciosas nas ruas e tão frias no atendimento comercial), fiz o caminho de volta, não sem antes cometer uma infração que poderia ter me levado pro xadrez: das dezenas de bandeirinhas fincada no gramado do Parque Urraca, defronte à Av. Balboa, trouxe uma delas para o Brasil.

Era hora de voltar. Quando a noite chega e a cidade grande começa a cerrar os portões é porque o poeta estava certo, ninguém vê onde chegamos: os assassinos estão livre, nós não estamos.


terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Dia I ou "O dia em que meus pais NÃO saíram de férias"

Porto Alegre (RS), Segunda-feira, 03 de Novembro de 2008.

Era cedo. Bem cedo quando acordei. Mal consegui dormir, a adrenalina de saber que a rotina não faria parte dos meus próximos 30 dias nem me deixou ficar cansado. Fiz aquele último check-up no que tinha que levar, e tudo estava lá.

Coloquei o que me era importante numa mochila menor. Se minha bagagem fosse parar em Timor Leste pelo menos o essencial estava comigo.

Saí de Porto Alegre às 06:15 da manhã e cheguei ao Rio de Janeiro às 08:00. Meu vôo da Copa Airlines para o Panamá sairia às 13:25, ou seja, 5 horas de aeroporto pra pensar bastante no que estava fazendo e, se não pegasse o próximo vôo pra casa, não teria jeito. Então vem, vambora.

Nem preciso dizer que não desisti. (Com a internet do Aeroporto Tom Jobim ao preço de 1 real/minuto qualquer lugar já me servia !)

Às 17:50 aterrisei no singelo, mas moderno, Aeroporto Internacional Tocumen nos arredores de Ciudad de Panamá.

Depois de uma chegada nada burocrática, sem obstáculos na entrada do país, era hora de encarar a América Central.

Quase sempre que via fotos do continente, o céu estava nublado e o tempo nada bonito. Muito disso por causa da longa época de chuvas que segue de Maio ao final de Outubro (que me fazia lembrar um certo Estado do Sul do Brasil). E como eu estava lá logo no início de Novembro, era bom contar com a sorte pra que o tempo melhorasse.

E quando cheguei... lá estava o céu nublado me esperando.

Já na chegada quis saber aonde se pegava o
bus para o Gran Terminale de Transportes que fica a cerca de 30 km do Aeroporto (e este, por sua vez, longe de tudo), pois era desse terminal que seguiria para o resto do continente, e fui ajudado por algumas pessoas. Uma das coisas que logo se percebe é a maneira solícita do povo centro-americano. Graças dou, porque realmente precisaria de muita ajuda deles: pagava o preço por se viajar só.

Nada de táxis, pensava. Cheguei com 120 dólares em espécie e ainda não tinha a menor idéia de onde e como iria sacar dinheiro. Percebi que não era uma boa esperar um ônibus vindo da Terra do Nunca e indo para o Morro que Sobe e Desce e No Fim Desaparece. Passei a contar com a possibilidade de as coisas darem errado logo na chegada: se isso acontecesse, considerando que o tempo estava chuvoso, já estava escurecendo, eu estava num lugar totalmente desconhecido e muito longe do lugar que sequer sabia qual, seria um fracasso. Passei a achar tentador pegar um táxi.

Você chega na cidade com cara de turistas e mochila com a bandeira do Brasil nas costas. Chove taxistas !
"- Donde vás ! Terminale !? 30 dólares !"
"- Albrooks, hombre ? 25 dólares !"
E os preços baixam se você souber representar, basta fazer cara de quem sabe o que está fazendo ! Nem que você caminhe negociando do lado do táxi até chegar ao destino
, mas NUNCA entre num táxi sem antes acertar o valor. O resultado pode ser desastroso.

Eis que um deles oferece a corrida por US$ 12. Era hora de aceitar e era o primeiro de tantos que eu ainda iria pegar.

Seguimos pelo Corredor Sur rumo à zona urbana, não sem antes passarmos num bairro da periferia aonde Ivan, o taxista, morava e onde precisava fazer alguma coisa que, realmente, não me interessava e que não teria sequer prestado atenção se não tivesse dito para que eu ficasse tranquilo, o que aos meus ouvidos soou algo como:
"- Vou te levar pr'uma bocada mas fica frio que não tem ninguém armado".

Neuras, pocilgas e trânsito à parte, cheguei ao Gran Terminale de Transportes na capital panamenha ao custo de U$ 15 (e não 12 como o combinado) por me cobrar a corrida (???).

Um dos problemas crônicos nas capitais centro-americanas é o trânsito, e de todas elas a capital dos panamenhos é a única a centralizar o transporte (mais ou menos como em algumas cidades daqui). Todo transporte terrestre de longa distância sai desse movimentado terminal que fica ao lado de um shopping center chamado Albrook Mall.



A chuva estava aumentando, a noite já tinha chegado, e eu não tinha a menor idéia do que iria fazer. Só sabia que tinha que garantir minha passagem para San José na Costa Rica para dali a dois dias (05/11). Como a Ticabus, única empresa que oferece transporte até a capital costarriquenha, não aceitava Visa, tive que pagar em dinheiro, o que aumentava minha preocupação em como iria sacar dinheiro, afinal não tinha idéia se algum caixa eletrônico, ou
cajero automático, aceitaria meu cartão.

Me dirigi ao Albrook, comi um lanche ruim e caro (uma espécie de pamonha com queijo), acessei a net, tentei sacar dinheiro sem obter sucesso e fui atrás de um lugar para ficar.

E chove chuva, sem parar !

Meu plano inicial era ficar no bairro turístico Casco Viejo, 3 km ao sul de onde estava, onde existem bons albergues. Mas com a chuva ficando cada mais forte comecei a ver que, talvez, as coisas não iriam ser tão simples. E os táxis sumiram !

Perguntei ao segurança do (ainda muito movimentado) terminal como chegar ao tal Casco Viejo, ele chamou um policial que, por sua vez, apelou ao seu superior, e os três me sugeriram procurar algum lugar no centro da cidade, porque era tarde pra buscar alojamento onde eu pensava conseguir. Resolvi aceitar a opinião deles.

O chefe foi diligente. Chamou um táxi, passou alguma informação pro motorista, e lá estava eu indo pra mais algum lugar.

Nos bancos da frente o taxista e um passageiro de meia idade. No de trás uma mulher com um bebê no colo:
- "Buenas noches !", disse eu.
Ninguém respondeu. O clima parecia meio pesado dentro do táxi, que seguiu em disparada na noite encharcada.

Nesse momento pensei se realmente queria estar ali.
Não tinha a menor idéia do que estava fazendo. Só pude torcer pra que a corrida não me custasse mais do que tinha no bolso.

Logo o taxista parou em frente a algo o qual não conseguia visualizar muito bem e que supus se tratar de um hotel.
O taxista saiu na chuva, falou alguma coisa entre as grades cerradas da porta com alguém de dentro e fez sinal pra que eu descesse. E lá fui eu me hospedar no Residencial La Primavera a US$ 13 com ar condicionado.

- "Adiós, chileno", disse o taxista. "Soy de Brasil" !
E nessa hora percebi como iria ser útil ser brasileiro: o taxista que antes não quisera conversa agora quis ser meu amigo !
Então tá né, como diria Joaquim Osório Duque Estrada:
dos filhos deste solo é mãe gentil, Pátria amada Brasil !

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Até a pé nós iremos !

Era hora de partir.

Considerando que estava de férias, tomei a decisão de sair de Porto Alegre/RS aproveitando para assistir Grêmio x Figueirense: naquela rodada estávamos brigando pelo título do Brasileirão 2008 e esse jogo era certeza de vitória, afinal de contas, fora de casa, no Scarpelli, ganhamos por 7 x 1.
Saí de Guaramirim com praticamente tudo o que levaria pra viagem, "lacrei" minha mochila e levei uma bolsa com tudo aquilo que precisaria pra passar os últimos dias no Brasil.

Segui para o Sul sabendo que era o Norte era meu objetivo.
Faltava pouco.

Bom, não vou entrar em detalhes quanto ao jogo, mas empatamos: 1 x 1.



E, se não fosse a beleza do sol se ocultando no Oeste pouco antes de chegar a coisa poderia ter sido mais triste.
Mas, como diria Lupicínio Rodrigues:
até a pé nós iremos !





domingo, 14 de dezembro de 2008

..., 5, 4, 3, 2, 1.



A idéia eu já tinha, faltava fazer acontecer.

Entre o nascimento da idéia e as minhas férias havia algo como 2 meses e eu realmente não tinha tempo a perder. Me aventurar num lugar que nunca estive, (tecnicamente) sem falar a língua local e completamente só, exige uma boa preparação e, pelo jeito, o Sr. Tempo também ia tirar férias, não estando nem um pouco disposto a me ajudar.
Me dei conta de quanta coisa é preciso fazer pra se estar "preparado". A pré-viagem pode acabar sendo mais cansativa e dispendiosa que a viagem em si.










Num mundo de internet e "cartões magnéticos pré-pagos", pensei nos caixeiros viajantes do século passado e em gente como Luiz Carlos Prestes, Mal. Cândido Rondon, Dr. David Livingstone, Sir Henry Stanley e outros. Gente que rodou o Brasil e o Mundo sem poder contar com Google Earth, Wikitravel, nem poder comprar uma edição atualizada do Lonely Planet.












Eu tinha uma vantagem e ia querer tirar proveito dela.


Primeiro resolvi traçar o roteiro. Descobri que Ciudad de Panamá é o trevo das Américas. Pra qualquer cidade centro-americana que fosse, por ali faria minha conexão. Decidi sair da capital panamenha e rumar ao Norte (mais tarde descobria que esse caminho é a contramão de quase todos mochileiros no continente: turistas do resto do mundo geralmente vem do Norte e seguem rumo ao Sul).

Meu roteiro acabou nascendo de parto normal e ficando a cara do pai :



03/11 Seg Ciudad de Panamá/PAN
04/11 Ter Ciudad de Panamá/PAN
05/11 Qua Ciudad de Panamá/PAN - San José/CRI
(Passaria 3 dias no Panamá a tempo de visitar o Casco Viejo, o canal do Panamá e fazer minhas compras para a viagem)

06/11 Qui San José/CRI
07/11 Sex San José/CRI
08/11 Sáb San José/CRI – Puntarenas/CRI
09/11 Dom Puntarenas/CRI
(4 dias na Costa Rica: tempo suficiente pra visitar a capital, o Parque Nacional Vulcão Poás e me jogar nas águas do Pacífico)

10/11 Seg Puntarenas/CRI – Granada/NIC
11/11 Ter Granada/NIC
12/11 Qua Manágua/NIC
13/11 Qui Manágua/NIC – San Salvador/ESA (4 dias pra visitar a cidade colonial de Granada, o Lago Nicarágua e a capital Manágua)

14/11 Sex San Salvador/ESA
15/11 Sáb San Salvador/ESA – La Antígua Guatemala/GUA
(2 dias em El Salvador)


16/11 Dom La Antígua Guatemala/GUA
17/11 Seg Panajachel/GUA
18/11 Ter La Antígua Guatemala/GUA
19/11 Qua La Antígua Guatemala/GUA
20/11 Qui La Antígua Guatemala/GUA
21/11 Sex La Antígua Guatemala/GUA -Flores/GUA
22/11 Sáb Ruínas de Tikal/GUA
23/11 Dom Flores/GUA – Ciudad de Guatemala/GUA
24/11 Seg Ciudad de Guatemala/GUA
(9 dias na Guatemala pra visitar Antígua, Lago Atitlán e as ruínas Maias de Tikal)

25/11 Ter Ciudad de Guatemala/GUA - Ruínas de Copán/HON – Tegucigalpa/HON
26/11 Qua Tegucigalpa/HON
(2 dias em Honduras pra visitar Copán e a capital)

27/11 Qui Tegucigalpa/HON – Ciudad de Panamá/PAN
28/11 Sex Ciudad de Panamá/PAN

Eu sabia que isso era apenas um plano e muitas das coisas que estava planejando não aconteceriam e, de fato, futuramente veria o efeito dominó de um roteiro tão apertado: quando algo não dá certo não resta muita alternativa senão mudar os planos.

Preparei minha mochila de 50 litros, listei tudo o que precisava e muitas das coisas resolvi comprar no Panamá a um preço pouco mais aceitável que aqui (por exemplo, cheguei ao Panamá sem trazer calçados, apenas as botas que usava e lá resolvi comprar sandália e tênis).

Tomei a exigida vacina contra a Febre Amarela (e uma contra Hepatite A e B pra garantir), fiz meu cartão pré-pago Travel Money, cartões de Crédito e passaporte na mão, era só seguir viagem.

Simples assim.

(Até parece. Como já foi dito: a preparação é quase tão desgastante quanto a trip)

sábado, 13 de dezembro de 2008

América Central quem ?


Confesso que a escolha foi por eliminação:

Já notou o tamanho do nosso planeta ? Nunca percebeu que tudo aquilo que a civilização humana já criou, construiu, destruiu, inventou, escreveu, desenhou, compôs..., se passou tudo aqui, dentro da 3ª esfera que rodopia o
Rey Sol ? Nosso planeta é pequeno e não são tão vastas assim as opções.
E como não conseguiu ganhar meu primeiro milhão antes dos 30 anos, acabei não por não me tornar um capitalista selvagem (nem ajudar a materializar essa crise econômica), mas também não tive dinheiro suficiente pra fazer uma viagem interplanetária, ou coisa parecida; assim, tomei a decisão acertada de viajar no meu planeta: nada de dívidas (ainda quero meu primeiro milhão e não pretendo parcelar no cartão uma viagem num foguete russo).

Ok.
Passei a considerar possibilidades (burocracia, distância, custo, diferenças culturais) e meu sangue (e bolso) latino falou mais alto. Quando decidi que era por aqui mesmo que ia caminhar, percebi que viajando pela América Central cruzaria mais fronteiras e conheceria mais culturas nos 25 dias, que viajando pela América do Sul.
Resolvi perseguir informações sobre a América Central.
Digo
perseguir porque é, realmente, uma luta interminável encontrar livros sobre viagens centroamericanas.
A desconhecida América Central passou longe das nossas aulas de Geografia, quase despercebida das de História, mas sempre esteve lá. Uma hora dessas alguém teria que se dar conta de que, entre os anglo-saxões americanos e canadenses e os latinos da América do Sul, havia uma ligação terrestre que não era o México (e, antes que me perguntem: NÃO é possível ver o Atlântico e o Pacífico ao mesmo tempo enquanto se atravessa o Panamá ! Hehehe).
Pois é, nesse pequeno território de pouco mais de 523.000 km2 vivem 40,5 milhões de pessoas.
Imagine que toda população da Argentina fosse transferida para um território pouco menor que o Estado da Bahia.

Não né !

Melhor assim.

Agora imagine essa mesma Bahia socada de gente dividida em 7 países, cada um deles com suas peculiarididades, sua própria história e bandeira (ao menos falando a mesma língua - exceto por Belize onde se fala Inglês, Espanhol e Creole, ou uma mistura disso tudo !!).
Sim, a América Central existe ! E era pra lá que eu iria. Fiz meu roteiro e planejei minhas férias: sairia do
Panamá, passaria pela Costa Rica, Nicarágua, El Salvador, Guatemala e Honduras.


Belize foi cortada na última convocação: exigem visto de brasileiros.


PS: Apesar de raros existem livros nacionais sobre o assunto:
América Central nas Asas do Quetzal - Eduardo Batista Soares - Ed. Literalis
Em Busca do Mundo Maia - Airton Ortiz - Ed. Record