terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Dia III ou "O dia em que o Canal do Panamá entrou no ar"

Ciudad de Panamá (Panamá) - Quarta-feira, 05 de Novembro de 2008

O relógio apontava 09:00 horas quando levantei. Na noite anterior fiz questão da anotar na minha agenda tudo o que precisava fazer. Era meu último dia no Panamá e eu não queria que o efeito dominó derrubasse meu roteiro já no terceiro.

A prioridade era fazer compras. Precisava de sandálias, tênis, camisetas e roupa pra chuva. Como não tinha a menor idéia dos preços na Costa Rica, era ainda no Panamá que ia conseguir isso tudo.

O Panamá é conhecido pelos bons preços. Todo o tráfego de mercadorias vindas dos quatro cantos do mundo fez de Ciudad de Panamá um importante centro comercial. A moderna capital do país está na entrada do canal (ou saída, dependendo de seu ponto de vista) banhada pelo Pacífico, enquanto que, 60 km ao Norte, se encontra a cidade de Colón, servida pelas águas do Atlântico.

As duas cidades possuem forte comércio, mas com características um pouco diferentes. Enquanto Colón (cidade com pouco mais de 200.000 habitantes) tem força no comércio atacadista, a capital atrai turistas de ocasião. Mais tarde viria a saber, por pessoas que conheci na trip, que ir a Colón é pura perda de tempo: além de ser marcada pela violência, os preços não são os aquilo que se espera. (Um senhor vindo da Flórida relatou na viagem pra Costa Rica que em Colón fora abordado por um assaltante armado, levou uma coronhada e quase teve o passaporte roubado).

Mais uma vez pedi ajuda a governanta multi-uso do residencial que me indicou um lugar de preços bons chamado Plaza Calidonia a uns 800 metros de onde estávamos: os preços do Albrook e do Multiplaza só eram realmente bons nas ofertas.


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Se existia uma praça no lugar, nunca vou saber, porque as tendas se espalhavam pelas ruas em pleno feriado do Dia de Colombo. Antes de chegar na muvuca comprei um jornal, desses baratos com notícias populares, pra caminhar com ele debaixo do braço. Quando se é forasteiro, se estampa na cara, nos trejeitos, na maneira que se olha o movimento, e isso é um prato cheio para os espertos. Um jornal debaixo do braço simboliza um cidadão comum, acostumado com o cotidiano. Isso até que esse cidadão comece a falar portunhol. Porém segurança ali não era problema porque existia policiamento ostensivo nessa área da cidade.

Com sandálias e abrigo na sacola, era hora de arrumar as malas e debandar. Já era quase meio-dia e ainda pretendia visitar o Canal do Panamá.

Então, tomei um táxi até o terminal e fui logo buscando um guarda-volumes que ficava num pequeno corredor na ala sul da estação. Uma simpática balconista me atendeu o que, de certa forma, me surpreendeu porque na maioria das vezes fora atendido por gente despreparada em shopping centers munidos de excelentes instalações de ar condicionado enquanto que aquele cubículo fervente fui tratado de modo exatamente oposto. Aquilo mais parecia uma sucursal do inferno na terra !

Antes que me perguntassem se queria marcar uma entrevista com o "Coisa Ruim", deixei minhas coisas combinando de pegá-las antes das 19, já que era feriado e não trabalhariam até madrugada. Meu ônibus para a Costa Rica sairia somente às 23 horas, ou seja, eu teria uma tarde inteira pra fazer turismo (contanto que estivesse às 19 no terminal pra pegar minha mochila).

Depois de almoçar no Shopping, negociei com taxistas conseguindo um "excelente" desconto de 5 pra 3,5 dólares . Era horário nobre no Canal do Panamá e sem reprise de Natal.
No caminho o taxista contava mais uma das muitas histórias panamenhas sobre o canal. Percebe-se que, com a extinção do território americano da Zona do Canal do Panamá, os panamenhos passaram degustar sua soberania territorial, mas é inegável que a saída dos americanos vem causando problemas na economia local, afinal de contas, foram-se os gringos e seus dólares também.


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O Canal do Panamá talvez seja o mais famoso ponto turístico da América Central. Também pudera, já desde o século XIV os navegadores tentam de alguma forma transpassar o continente centro-americano. Antes da construção do canal havia a idéia de que a ligação pudesse ser feita não no Panamá, mas na Nicarágua onde, aproveitando o Rio San Juan e o Lago Nicarágua, seria necessário romper somente 20 km de terra para se chegar ao Oceano Pacífico. Por razões políticas e geofísicas isso acabou não acontecendo e, assim, ao invés do Canal da Nicarágua quem ficou famoso foi o Canal do Panamá.
A visitação do canal se dá por suas eclusas: é lá que o visitante pode observar os navios subindo e descendo de nível. Os navios sobem de nível quando entram no canal e descem quando voltam para o oceano, mais ou menos como se atravessassem uma ponte. Como os navios não têm rodas e a água respeita a lei da gravidade, a engenharia precisou inventar as eclusas.

São três grupos de eclusas: Gatún, ao norte (próximo a Colón), Pedro Miguel e Miraflores ao sul (próximo à capital), essa última a mais visitada. E foi nessa mesma que eu fui.

Logo na chegada, numa longa escadaria, um entra e sai de turistas.

Já no guichê de entrada você tem duas opções: pagar US$ 5,00 para ver as eclusas funcionando e visitar o museu, ou US$ 8,00 por uma visitação completa com guia e direito a assistir um filme no lugar. Se tiver tempo e dinheiro pra gastar, a opção é sua.

O museu é interessante, com várias maquetes, miniaturas e simuladores, vale a pena conhecer e bater muitas fotos. Eu fiz isso. Mas perdi todas !

O terraço do prédio é o melhor lugar para assistir as eclusas funcionando. As embarcações ficam aguardando no Lago Miraflores a oportunidade para poderem entrar nas eclusas e o público, por sua vez esperando por elas. Parece um rodeio gigante às avessas.

O que chama a atenção é a impressão que as embarcações causam de multiplicar seu tamanho a cada metro que se aproximam. E se você acha difícil fazer baliza no centro da cidade, não queira o emprego de manobrista no Canal (sim, lá é o único lugar do mundo onde o comandante larga o navio na mão de um especialista): certa vez um barco apenas 60 cm de largura mais estreito que a eclusa atravessou pra lá, ou seja, uma parafernália daquelas passou a uma régua escolar (30 cm) de cada lado.

O sistema é teoricamente simples: o barco é posto na entrada da eclusa, alguns carrinhos localizados nos trilhos laterais o laçam, arrastando até o que se pode chamar de banheira. Essa banheira perde água pelas laterais fazendo a jangada descer. Quando o nível de água está baixo, e abrem-se as comportas, e o público delira !

E mesmo com a chuva incomodando no terraço, o público delirou mesmo, e numa dessas de pedir pra algum transeunte bater fotos conheci o primeiro e único brasileiro em toda a viagem: Eduardo, um carioca que costumava ir para os EUA fazendo escala por outro lugar, que já não lembro onde, e que dessa vez resolveu mudar a rota e conhecer o Panamá. Porque me viu com a camisa da Força Aérea Brasileira, resolveu me ajudar com as fotos: "É, tem brasileiro em todo lugar mesmo", concordamos.

E como, brasileiros quando se encontram, já arrumam uma jeito de descolar uns trocados. Rachamos o táxi e aproveitamos pra seguir dali para o tradicional bairro Casco Viejo, não sem antes pechinchar um pouco e conseguir um táxi mais barato. Dividido por 2.


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