terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Dia I ou "O dia em que meus pais NÃO saíram de férias"

Porto Alegre (RS), Segunda-feira, 03 de Novembro de 2008.

Era cedo. Bem cedo quando acordei. Mal consegui dormir, a adrenalina de saber que a rotina não faria parte dos meus próximos 30 dias nem me deixou ficar cansado. Fiz aquele último check-up no que tinha que levar, e tudo estava lá.

Coloquei o que me era importante numa mochila menor. Se minha bagagem fosse parar em Timor Leste pelo menos o essencial estava comigo.

Saí de Porto Alegre às 06:15 da manhã e cheguei ao Rio de Janeiro às 08:00. Meu vôo da Copa Airlines para o Panamá sairia às 13:25, ou seja, 5 horas de aeroporto pra pensar bastante no que estava fazendo e, se não pegasse o próximo vôo pra casa, não teria jeito. Então vem, vambora.

Nem preciso dizer que não desisti. (Com a internet do Aeroporto Tom Jobim ao preço de 1 real/minuto qualquer lugar já me servia !)

Às 17:50 aterrisei no singelo, mas moderno, Aeroporto Internacional Tocumen nos arredores de Ciudad de Panamá.

Depois de uma chegada nada burocrática, sem obstáculos na entrada do país, era hora de encarar a América Central.

Quase sempre que via fotos do continente, o céu estava nublado e o tempo nada bonito. Muito disso por causa da longa época de chuvas que segue de Maio ao final de Outubro (que me fazia lembrar um certo Estado do Sul do Brasil). E como eu estava lá logo no início de Novembro, era bom contar com a sorte pra que o tempo melhorasse.

E quando cheguei... lá estava o céu nublado me esperando.

Já na chegada quis saber aonde se pegava o
bus para o Gran Terminale de Transportes que fica a cerca de 30 km do Aeroporto (e este, por sua vez, longe de tudo), pois era desse terminal que seguiria para o resto do continente, e fui ajudado por algumas pessoas. Uma das coisas que logo se percebe é a maneira solícita do povo centro-americano. Graças dou, porque realmente precisaria de muita ajuda deles: pagava o preço por se viajar só.

Nada de táxis, pensava. Cheguei com 120 dólares em espécie e ainda não tinha a menor idéia de onde e como iria sacar dinheiro. Percebi que não era uma boa esperar um ônibus vindo da Terra do Nunca e indo para o Morro que Sobe e Desce e No Fim Desaparece. Passei a contar com a possibilidade de as coisas darem errado logo na chegada: se isso acontecesse, considerando que o tempo estava chuvoso, já estava escurecendo, eu estava num lugar totalmente desconhecido e muito longe do lugar que sequer sabia qual, seria um fracasso. Passei a achar tentador pegar um táxi.

Você chega na cidade com cara de turistas e mochila com a bandeira do Brasil nas costas. Chove taxistas !
"- Donde vás ! Terminale !? 30 dólares !"
"- Albrooks, hombre ? 25 dólares !"
E os preços baixam se você souber representar, basta fazer cara de quem sabe o que está fazendo ! Nem que você caminhe negociando do lado do táxi até chegar ao destino
, mas NUNCA entre num táxi sem antes acertar o valor. O resultado pode ser desastroso.

Eis que um deles oferece a corrida por US$ 12. Era hora de aceitar e era o primeiro de tantos que eu ainda iria pegar.

Seguimos pelo Corredor Sur rumo à zona urbana, não sem antes passarmos num bairro da periferia aonde Ivan, o taxista, morava e onde precisava fazer alguma coisa que, realmente, não me interessava e que não teria sequer prestado atenção se não tivesse dito para que eu ficasse tranquilo, o que aos meus ouvidos soou algo como:
"- Vou te levar pr'uma bocada mas fica frio que não tem ninguém armado".

Neuras, pocilgas e trânsito à parte, cheguei ao Gran Terminale de Transportes na capital panamenha ao custo de U$ 15 (e não 12 como o combinado) por me cobrar a corrida (???).

Um dos problemas crônicos nas capitais centro-americanas é o trânsito, e de todas elas a capital dos panamenhos é a única a centralizar o transporte (mais ou menos como em algumas cidades daqui). Todo transporte terrestre de longa distância sai desse movimentado terminal que fica ao lado de um shopping center chamado Albrook Mall.



A chuva estava aumentando, a noite já tinha chegado, e eu não tinha a menor idéia do que iria fazer. Só sabia que tinha que garantir minha passagem para San José na Costa Rica para dali a dois dias (05/11). Como a Ticabus, única empresa que oferece transporte até a capital costarriquenha, não aceitava Visa, tive que pagar em dinheiro, o que aumentava minha preocupação em como iria sacar dinheiro, afinal não tinha idéia se algum caixa eletrônico, ou
cajero automático, aceitaria meu cartão.

Me dirigi ao Albrook, comi um lanche ruim e caro (uma espécie de pamonha com queijo), acessei a net, tentei sacar dinheiro sem obter sucesso e fui atrás de um lugar para ficar.

E chove chuva, sem parar !

Meu plano inicial era ficar no bairro turístico Casco Viejo, 3 km ao sul de onde estava, onde existem bons albergues. Mas com a chuva ficando cada mais forte comecei a ver que, talvez, as coisas não iriam ser tão simples. E os táxis sumiram !

Perguntei ao segurança do (ainda muito movimentado) terminal como chegar ao tal Casco Viejo, ele chamou um policial que, por sua vez, apelou ao seu superior, e os três me sugeriram procurar algum lugar no centro da cidade, porque era tarde pra buscar alojamento onde eu pensava conseguir. Resolvi aceitar a opinião deles.

O chefe foi diligente. Chamou um táxi, passou alguma informação pro motorista, e lá estava eu indo pra mais algum lugar.

Nos bancos da frente o taxista e um passageiro de meia idade. No de trás uma mulher com um bebê no colo:
- "Buenas noches !", disse eu.
Ninguém respondeu. O clima parecia meio pesado dentro do táxi, que seguiu em disparada na noite encharcada.

Nesse momento pensei se realmente queria estar ali.
Não tinha a menor idéia do que estava fazendo. Só pude torcer pra que a corrida não me custasse mais do que tinha no bolso.

Logo o taxista parou em frente a algo o qual não conseguia visualizar muito bem e que supus se tratar de um hotel.
O taxista saiu na chuva, falou alguma coisa entre as grades cerradas da porta com alguém de dentro e fez sinal pra que eu descesse. E lá fui eu me hospedar no Residencial La Primavera a US$ 13 com ar condicionado.

- "Adiós, chileno", disse o taxista. "Soy de Brasil" !
E nessa hora percebi como iria ser útil ser brasileiro: o taxista que antes não quisera conversa agora quis ser meu amigo !
Então tá né, como diria Joaquim Osório Duque Estrada:
dos filhos deste solo é mãe gentil, Pátria amada Brasil !

Nenhum comentário:

Postar um comentário